A menos de um mês da reunião sobre mudanças climáticas, em Copenhague, os países ainda não deixaram claro quanto estão dispostos a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. O Brasil vai pelo mesmo caminho. O dilema a ser vencido é como conciliar a diminuição da quantidade de carbono com o desenvolvimento
Para andar de automóvel, alimentar-se, ir ao cinema, realizar as tarefas rotineiras da vida, a humanidade lança no ar 49 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano.
A posição dos Estados Unidos, a maior potência econômica e o maior poluidor da atmosfera, será decisiva para moldar as propostas de todos os outros países. Da última vez em que se formulou um acordo, em Kioto, no Japão, em 1997, concordou-se que todos os países cortariam, em média, 8% de suas emissões de carbono até 2012. O acordo fracassou. Os Estados Unidos o assinaram, mas não o ratificaram. A ausência americana criou um buraco negro que sugou e fez desaparecer qualquer possibilidade de sucesso efetivo. Poucos países levaram a sério o tratado e fizeram o dever de casa. O Japão foi um deles. E justamente por isso está numa situação delicada agora. Como já cortou o que devia, não tem mais muito de onde tirar. O caso dos Estados Unidos é diferente. O país que não fechou negócio com o mundo em 1997 está discutindo o que propor hoje. E por enquanto não disse nada muito animador. Esse debate está centrado agora no Congresso. Na semana passada, a comissão do Senado que estuda o assunto deu sinal verde para o projeto do senador democrata John Kerry, que prevê um corte de 20% em relação às emissões de 2005. Mas ainda não há consenso. A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, em visita histórica ao Congresso americano, na semana passada – uma rara honraria a um líder estrangeiro –, deu um puxão de orelhas nos americanos. "Em dezembro, o mundo olhará para nós, europeus e americanos. Não temos tempo a perder", disse Merkel.
Ao contrário das expectativas iniciais, criadas durante a campanha de Barack Obama, o governo americano estabeleceu uma meta tímida de redução de emissões. Comprometeu-se com apenas 14% em relação às suas emissões de 2005. Na prática, isso significa cerca de 3% do valor das emissões produzidas em 1990. É pouco. Dos países ricos espera-se que reduzam suas emissões entre 25% e 40% em relação ao que emitiam em 1990. Além disso, eles devem financiar projetos e ações que ajudem os países pobres a fazer sua parte. Estes não precisam se comprometer com metas, mas devem acompanhar o esforço global com ações locais. Já para os países em desenvolvimento, caso do Brasil, China, Índia e Rússia, por exemplo, a questão é mais delicada. Um compromisso mais elevado pode criar um obstáculo ao desenvolvimento. Do carbono presente hoje na atmosfera, 80% foram colocados lá pelos países desenvolvidos. Eles sabem que têm de pagar a maior parte da conta, mas estão discutindo o valor. Reside aí o nó que precisa ser desatado em Copenhague.
Fonte:Revista Veja Edição 2138 / 11 de novembro de 2009
http://veja.abril.com.br/111109/futuro-ainda-enfumacado-p-094.shtml
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